nessa mesma época ano passado eu estava desgostosa de tudo, sem fazer a mínima ideia de como a melhor parte do meu ano havia passado e como as coisas estavam prestes a ir ladeira à baixo. estava me sentindo esquecida por todos, invisível, e ao mesmo tempo esperando que, por um milagre, iria surgir do nada uma festa surpresa pra mim - como aconteceu por 3 anos seguidos na minha adolescência. mas eu e meus amigos já não somos mais adolescentes, e a vida começa a cobrar e se tornar tumultuada demais para surpresas.
o dia do meu aniversário caiu numa segunda feira, e até o último segundo do domingo eu fiquei esperando algum convite especial, pelo menos uma pessoa se lembrar de mim e me chamar para comemorar meu dia. não aconteceu. muito amargurada e contrariada, esse acabou sendo último aniversário que passei com minha avó - nesse domingo, não havia ninguém para passar a noite na casa dela, então recaiu sobre mim a responsabilidade. mal sabia eu que seria a última noite que eu dormiria na casa dela, e que um ano depois eu daria tudo para dormir lá de novo.
a segunda feira amanheceu, eu vi pela última vez a luz do sol através da janela do quarto minúsculo que eu dormia na casa da vovó. pela última vez me levantei daquela cama e abri as persianas, pela última vez tomei café da manhã naquela cozinha. tive que sair apressada, pois tinha psicóloga pela manhã, mas não antes de receber um abraço de feliz aniversário da minha avó, pela última vez na minha vida. ela segurou minha mão enquanto eu pedia o uber e deu aquele sorriso de boca fechada debochado dela e eu ri e me despedi, sem saber que seria a última vez que iria passar o aniversário com ela.
esse ano quando meu aniversário chegar com certeza meu telefone vai tocar algumas vezes, mas do outro lado não vai estar aquela voz rouca e morna me desejando felicidades, e perguntando se eu já comi, se vai ter bolo. até hoje eu me pergunto se deveria ter dado uma festa ano passado, mesmo não estando com humor para isso, mas acho que não faria diferença. o verdadeiro e mais valioso presente eu já recebi, e na época eu nem sabia ainda que seria o mais especial e mais doloroso presente de aniversário.
durante o ano que passou eu aprendi muito sobre mim mesma, e aprendi que na vida adulta não dá pra ficar esperando sempre que os outros tomem iniciativa, que os outros corram atrás de você para saber como você está, que os outros tentem te fazer feliz. a vida adulta é dura e turbulenta, e essa ausência não significa que as pessoas não gostam uma das outras - significa apenas que estão muito ocupadas, muito cheias dos seus próprios problemas. eu aprendi que é preciso regar as amizades para que elas fortaleçam.
esse é meu primeiro aniversário sem minha avó, mas ainda assim eu decidi fazer uma festa, porque eu sei que é isso que ela iria querer. porque ela sempre gostou muito de festa, de juntar as pessoas queridas com muita comida e risadas. porque eu sei que no final das contas não há presente caro que seja mais valioso do que boas memórias com as pessoas que nós amamos.