madura, podre
o meu amor é uma manga madura pairando sobre sua cabeça, mas você recusa a olhar ao seu redor. todas as minhas estrelas e todas as cartas do tarot me levam até você, mas você não acredita em nada disso, né? e mesmo todo esse tempo trancado dentro de si ainda não te ensinou a ouvir seu coração, porque eu ouvi ele batendo mais forte por mim — e bateu tão alto que todo mundo também ouviu. só você mesmo que não se ligou.
o que eu sinto por você não é alecrim dourado, que nasceu sem ser semeado; me coloque num tribunal, e eu posso levar várias testemunhas que também te viram plantar. me coloque contra a parede e a sua respiração alta balançando meus fios de cabelo não vai me deixar mentir. mas nada disso parece o bastante pra você, ou você só sabe mentir muito bem.
o que eu sinto por você é como as ondas salgadas de um mar turbulento, mas você é impetuoso como uma formação rochosa anciã, fria e lisa. dizem que água mole em pedra dura tanto bate até que fura, mas por enquanto meus afetos escorregam pela sua superfície gelada tentando penetrar em qualquer cavidade — que seja para formar um microbioma sequer — sem nenhum sucesso.
por que você pôs a mesa e não serviu a refeição? assim como Pavlov, você me fez salivar com uma sugestão. o que eu sinto não é um gato de Schrodinger, por que você não quer abrir a caixa pra ver que eu ainda estou aqui?
eu sou uma fruta madura e suculenta, e enquanto eu espero ser colhida, logo posso apodrecer e cair. não me deixe desperdiçar.
*Postado originalmente no Medium