framboesas selvagens
mais uma vez estou engasgada com meus sentimentos, não deu uma semana do ano novo. mas dessa vez eu que fui culpada, sempre mordo mais que sou capaz do que engolir, sempre com muita sede ao pote; já não sei se é fome ou gula, o amor é uma necessidade humana e a minha não está sendo saciada. mas mais uma vez matei uma planta regando demais.
como um corvo, eu vou sempre atrás de pequenos presentes para dar como forma de demonstrar o que sinto. não me importo de ter as mãos e os dedos arranhados por espinhos colhendo frutas para os outros. eu só quero ser apreciada.
acho que sou viciada em apostar no amor, mas talvez eu tenha mais sorte no jogo. cada porta aberta é uma possibilidade do próximo que me atrair ser o meu bilhete premiado. é cansativo viver assim na expectativa, eu admito, quando ela nunca é alcançada. mas a esperança é uma droga extasiante demais, me tira do tédio da minha vida mundana.
é fácil pra mim perceber que sou apaixonada pela ideia de me apaixonar, o que muda é apenas o objeto. e apesar de ser a parte menos importante da equação, eu sempre acabo sendo ferida por eles. eu me apaixono por todo lugar onde passo, me apaixono por pessoas no ônibus, na fila do supermercado. me apaixono pela ideia de iniciar uma conversa, me apaixono por uma interação que vai ser o começo de um relacionamento romântico duradouro. mas nada pelo que eu me apaixono é concreto.
e esse vício em me apaixonar, essa vulnerabilidade que eu insisto em manter apesar das circunstâncias, assim como a droga, está ligado intimamente à pulsão de morte. ao mesmo tempo que dá prazer momentâneo, também é uma forma de me auto mutilar.
ao mesmo tempo que a cada ano eu me torno mais consciente dessa minha relação com relacionamentos - dessa minha tendência a buscar algo que não tem fundamento, de apostar cegamente em busca de algum sentimento - mais eu sinto que tem algo de errado comigo, que de alguma maneira a culpa é minha. eu tenho quase 30 anos e nunca fui desejada. o que eu estou fazendo de errado? todos que estão ao meu lado é por obrigação ou por pena, quando que vai ser por opção? quando que alguém vai escolher me amar?
eu nunca conheci, em toda minha vida, o amor fora da obsessão, do vício, desse exercício de me entregar ao acaso e quebrar a cara toda vez. nunca conheci o amor que tenha partido de outro, ao invés de partir de mim. todo amor que eu conheci nasce e morre dentro da minha própria costela.